sábado, 29 de outubro de 2011

A ditadura dos comportamentos

- Qual é o papel do Estado diante destes casos de violência homofóbica??
- Criminalizar a homofobia através da aprovação do PL 122.

Através de um Café Filosófico sobre o tema Homossexualidade, feito por um padre e um frei que escreveram um livro sobre o tema, pude perceber o quanto a igreja católica "evoluiu" nesse ponto. Não gosto da palavra evolução, mas na falta de uma melhor, esta serve. Pude perceber que existem pessoas dentro da igreja que aceitam e respeitam como algo natural ao ser humano, e não mais patologicamente nem "espíritomaliguinamente". Eu, que tinha uma visão extremamente generalizada sobre os cristãos católicos, ignorando totalmente a individualidade do ser em sua capacidade autônoma de livre-pensamento, fiquei extremamente surpreendida em saber que existem seres "superiores", segundo a hierarquia da religião, que encaram esse tema com tanta naturalidade e sem imposições homofóbicas; muito pelo contrário, lutam para que a homofobia seja cancelada dentro das igrejas. Bom, discordei de vários posicionamentos dos padres, principalmente quando entra na questão de gênero, mas não é nisso que quero me focar agora. Durante a dialética entre os participantes, alguém questionou ao padre qual seria o papel do Estado em relação aos casos de violência homofóbica. O padre (e não só ele, pois alguns concordaram) deu como solução ao caso a aprovação do PL122 que criminaliza a homofobia e pune os homofóbicos que agem violentamente. Num outro momento, uma mulher cristã deu seu "testemunho" sobre um filho homossexual que ela tem. Disse que começou a perceber que ele era "diferente" já quando era criança, quando preferia brincadeiras "femininas" às "masculinas'.

Bom, antes de mais nada, gostaria de deixar claro que não sou contra o PL122. Mas de fato não acredito na efetividade de uma lei como solução de um problema. Na verdade essa lei tem um caráter posterior, ou seja, se aplica após o crime ser cometido. Também não sou contrária à idéia de impunidade, mas confesso não ter um posicionamento concreto em relação "ao que fazer com um 'criminoso'". Não vejo cadeias como algo solucionável, na verdade vejo as cadeias como parte do problema.
O que quero dizer é que não adianta focarmos numa solução posterior ao crime, sem pensarmos no que gera esse crime. Deve-se pensar na raíz do problema para que através disso possamos enxergar o que faz com que as pessoas tenham comportamentos de agressividade em relação aos seus "diferentes". E acredito que a raís do problema seja justamente essa diferenciação comportamental justificada pelo sexo (biologicamente falando, homem e mulher). Vivemos numa sociedade heterossexista e ditadora de um padrão de comportamento diferenciado para os sexos, ou seja, homens tem que se comportar da maneira x e mulheres da maneira y. Esses comportamentos ditos "masculinos" e "femininos" não tem uma justificativa biológica, mas faz parte de uma construção cultural, história e etc. Já falei sobre isso num outro post, lá da pra ter uma idéia de onde to querendo chegar (clique aqui para ler). Nisso, eu volto ao argumento da mulher que percebeu a "diferença" no filho a partir de seu comportamento "feminino" já na infância. Ok, que existem homens homossexuais com comportamentos "femininos", de fato existem, mas não é uma regra da homossexualidade masculina, assim como não é regra da homossexualidade feminina ter comportamentos "masculinos", já que existem pessoas de comportamentos opostos ao seu sexo que não necessariamente são homossexuais. Mas aí eu questiono o que de fato são estes comportamentos femininos e masculinos e porque temos que nos submeter à eles?? Será que não mora nesse discurso conservador a raíz do problema de haver tanta violência gratuita contra o que é "diferente"? Afinal, quem é homem sabe, pois aprendeu na sua "educação", que ele tem de ser um homem violento, agressivo, forte, pois isso faz parte do pacote masculino. Dentro desse pacote, obviamente, existe a imposição do comportamento heterossexual, onde a pessoa só descobre o que é e que existe a homossexualidade quando se depara com alguém que é ou em N outras situações, e não na possibilidade de que ela posse vir a ser homossexual também. E aí entra a crise e a própria não aceitação em muitos casos, e principalmente a não aceitação da sociedade/família e de pessoas ao seu redor.
Enquanto esse tipo de comportamento sexista e heterossexista for uma imposição comportamental, com certeza não será uma lei que vai solucionar o problema. O problema continuará existindo e continuaremos nos tratando de forma diferenciada, sem que se conheça o respeito.

Bah

3 comentários:

  1. Legal! Também me surpreendeu esse pessoal da ICAR querer a criminalização da homofobia.

    Ao contrário de ti eu quero que essa lei seja aprovada o mais rápido possível. Acredito no questionamento e desconstrução, mas acho que lutar pelo fim da homofobia através da conscientização apenas é uma ideia utópica. Quer dizer, tem (muita) gente que não vai nem tentar refletir, vai se agarrar a uma tradição qualquer e pronto, e acho justo que essas pessoas se sintam forçadas a agir com menos homofobia simplesmente por medo de ir presas... Se essa geração fingir que não é preconceituosa, as próximas gerações tendem a ser cada vez menos preconceituosas de verdade, por falta de contato com o preconceito naturalizado, né?

    Abraço, Mariana

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  2. Mariana, como eu disse, não sou contrária ao PL122, muito pelo contrário. O que quis dizer, e parece ter ficado meio confuso o entendimento já que meus textos são confusos haha é que não vejo efetividade de fato se pensarmos APENAS no PL122 como solução pra um problema. Acredito que mexer na raíz da questão o alvo é atingido mais em cheio, e esses dois passos tem de ser pensados juntos. agradeço pelo comentário e digo mais, essa sua última frase me colocou a refletir (Se essa geração fingir que não é preconceituosa, as próximas gerações tendem a ser cada vez menos preconceituosas de verdade, por falta de contato com o preconceito naturalizado, né?)
    Bjuss

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  3. Sei que tu não és contra a Lei, isso fica muito claro pelo raciocínio, hehehe. Também acho que olhar e consertar as causas do problema seja importante. Apenas discordo na parte prática, digamos. Quer dizer, se das duas atitudes necessárias uma precisasse ser mais estimulada, eu escolheria a aprovação da lei, porque então as instituições seriam literalmente obrigadas por lei a repensar o preconceito. Mas provavelmente é uma ideia meio pretensiosa da minha parte, com essa bancada conservadora doida. Talvez discutir seja o único jeito de conseguir pressão popular suficiente.

    Eu li esse raciocínio das gerações em algum lugar, pena que não consigo lembrar onde... Tenho a impressão de que foi numa entrevista com alguém grandão do feminismo, mas não tenho certeza. Quando lembrar comento aqui então! hehe.

    Abraço, e desculpe a demora pra voltar! :P

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